ENTREVISTA: RECUPERAÇÃO DO BRASIL PÓS COVID-19

Maurício Roscoe

6/30/2020

man in blue dress shirt using macbook air
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Como você percebe os impactos e consequências do COVID 19?

Considero o COVID 19 como uma consequência natural do desrespeito com que a humanidade vem tratando as questões ecológicas. Nesse aspecto, assemelha-se aos furacões, secas e enchentes. Só que, enquanto estes dizem respeito às questões climáticas e costumam afetar regiões específicas, o Novo Coronavírus é uma questão biologia e de natureza global.

Tenho esperança de que o COVID 19 nos leve a perceber a necessidade de reavaliarmos nosso atual modelo mental. A estruturação da sociedade sob a lógica do consumismo é claramente insustentável.

A pior consequência possível seria passarmos por tudo isso e não nos apercebermos da necessidade de uma mudança de paradigmas.

O que fazer no curto prazo, afora as medidas já tomadas, para atenuar o impacto econômico, empresarial e social?

Sob o ponto de vista ECONÔMICO: É vital que mais pessoas se apercebam do conceito de Recursos Reais e que esses sejam utilizados para produzir, em primeiro lugar, o essencial para todos. O desemprego atual, além do desperdício do mais nobre dos Recursos Reais, é também uma calamidade. Para otimizar a utilização dos recursos reais, o Governo pode desenvolver mecanismos para atrair investimentos externos e mesmo emitir títulos e moeda, mas evitar empréstimos internacionais.

Tomar dinheiro emprestado do exterior trás quatro desvantagens: 1) Tais empréstimos têm que ser pagos com juros 2) Os juros são flutuantes, como deveríamos ter aprendido com a alta dos petrodólares no final da década de 70 e consequente estagflação dos anos 80. 3) Trazem o mesmo risco de provocarem inflação que as emissões internas, se não houver controles adequados. 4) A internalização dos dólares acarreta uma valorização artificial do real, o que é péssimo para nosso comércio exterior.

Sob o ponto de vista EMPRESARIAL: Participe de Associações de Classe. Lute por uma Sociedade mais COLABORATIVA, justa e menos conflituosa. O Mercado interno tem enorme potencial para crescer, pela via da Produtividade, Qualidade e Salários Justos. Se você produz supérfluos, busque, com calma, outras alternativas.

Sob o ponto de vista SOCIAL: Vamos criar juntos uma sociedade mais justa, um Mercado Interno muito maior e mais seguro. Podemos continuar buscando os nossos próprios interesses, mas enxergando a importância da contribuição de cada um para a evolução da sociedade. Pratiquemos o Egoísmo, sim! Mas um Egoísmo Inteligente que nos leva a perceber que, se o país for bem, todos teremos menos riscos e mais oportunidades.

Como a qualidade e a gestão podem ajudar a sair da crise?

A metodologia da Qualidade nos ensina a utilizar a criatividade e a inteligência de todos os colaboradores para a solução de problemas. Utilizando grupos de trabalho multidisciplinares, focados no objetivo comum de atuar nas questões fundamentais que afligem a sociedade neste momento, podemos criar um Mundo mais inteligente e melhor.

Sempre dizemos que o Brasil é o país do futuro. Isso pode acontecer algum dia? Quando? Como será possível?

Claro! Será possível quando as pessoas se aperceberem que devemos ser COMPETITIVOS apenas no sentido de buscar melhor Qualidade e Produtividade, mas COLABORATIVOS, MOTIVADORES e JUSTOS com todos. Quando nos apercebermos que as pessoas são o principal e insuperável recurso! O melhor Investimento é na cultura e educação.

Que conselhos você daria a um jovem que está trabalhando e passa a viver toda essa incerteza?

Tenha coragem e fé, pois vivemos em um Universo Inteligente! Muito inteligente! Nada acontece por acaso! Procure trabalhar e, também, ler, estudar, observar e refletir sempre. E procure desenvolver o dom que Einstein chamou de Dom Divino: A INTUIÇÃO.

MAURÍCIO ROSCOE

Maurício Roscoe é engenheiro e empresário e tem se dedicado ao estudo e promoção da visão sistêmica.

Fundador e Ex-Presidente da M. ROSCOE, empresa de construção civil especializada em obras industriais pesadas. Foi presidente do Sindicato Patronal (Sinduscon MG), da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e da União Brasileira para a Qualidade (UBQ MG). Foi vice-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) e presidente do seu Conselho Econômico.

Pertenceu ainda aos conselhos da Fundação Cristiano Otoni, da Sociedade Mineira de Engenheiros, do Serviço Nacional da Indústria (SENAI), da Pontifícia Universidade de Minas Gerais (PUC MG) e da Fundação Dom Cabral.