OS CEGOS E O ELEFANTE

Maurício Roscoe

10/9/2015

elephants standing on dried grass
elephants standing on dried grass

Estamos vivendo em um mundo em que as pessoas estão ficando especializadas demais. O resultado é uma baixa compreensão de como as coisas se relacionam e, consequentemente, uma reduzida visão sistêmica.

Para ilustrar esta questão, usaremos uma conhecida parábola que faz parte da tradição Budista, Sufista e Hindu. Trata-se da parábola dos cegos e do elefante.

Diz-se que um elefante foi apresentado a seis homens cegos para que os mesmos o descrevessem. No entanto, a cada cego coube examinar apenas uma parte do elefante. Assim, o cego que analisou a tromba disse que o elefante parecia uma cobra. O que tinha apalpado a presa afirmou que o animal era como uma lança. O cego encarregado de examinar a orelha exclamou que o elefante era como um grande leque. Ao que o cego que analisou o tronco retrucou que o elefante era como uma grande parede. E o cego que apalpou a perna reportou que o animal se assemelhava a um pilar. Nisto, o cego que tocou o rabo do animal exclamou:

- Nada disto! O elefante é como uma corda.

Pois bem, se esta história se passasse em uma sociedade não evoluída, escutaríamos afirmações como:

- Se vocês não percebem que o elefante é como uma parede, vocês não examinaram o elefante!

- O elefante é como uma cobra. E acabou! Quem fala que não é cobra, é um idiota!

Em uma sociedade não evoluída, cada cego defenderia a sua opinião veementemente e eles, provavelmente, nunca chegariam a um consenso.

Já se esta história se passasse em uma sociedade mais evoluída culturalmente, ao invés de discutir os cegos tentariam entender as diferenças de percepção.

Eles diriam:

- Vamos deixar o fulano falar. Como é que é, fulano? Conta para a gente qual foi sua percepção do elefante?

- Ah, foi assim, assim, assado.

- E você, Beltrano? Como foi sua experiência com o elefante?

- Ah, foi assim, assim, assado.

E, por fim, um deles diria:

- Uai. Que estranho! Cada um de nós teve uma percepção completamente diferente do elefante. Então, vamos voltar lá no elefante. Vamos pesquisar um pouco mais.

Ao perceber que há discrepância, vão atrás de mais informação. Analisam, pesquisam, refletem e buscam entendimento. Numa sociedade evoluída, existe mais sinergia e menos atritos. As pessoas procuram entender as questões de uma forma mais sistêmica.

shallow focus photography of elephant touching tusk
shallow focus photography of elephant touching tusk

Trazendo este exemplo para o nosso dia-a-dia:

Quando nós abordamos uma questão, o nosso ponto de vista pode nos parecer completamente correto. Mas, temos que nos lembrar que a nossa perspectiva é determinada por fatores como:

- o nosso conhecimento anterior

- a quantidade e qualidade da informação que analisamos

- os grupos que pertencemos e/ou papéis que representamos naquele momento (por exemplo: pais, filhos, empregados, empregadores, médicos, engenheiros, economistas, advogados, eleitores, políticos, brasileiros, americanos, alemães, japoneses, cristãos, judeus, muçulmanos, hindus, ateus, etc)

Mas, se analisarmos a mesma questão considerando:

- o ponto de vista de outras pessoas,

- as conexões existentes dentro do próprio assunto em questão e,

- as relações daquela questão com outras questões que, a princípio, poderiam parecer muito distantes.

Podemos perceber que nossa visão inicial estava bastante ou completamente equivocada.

À medida que mais gente entender que a visão fragmentada é a raiz da maior parte dos problemas atuais, estaremos mais próximos da tão falada “sustentabilidade’.

Então, na próxima vez que tiver que resolver um problema, ou na próxima vez que for discutir uma questão, lembre-se dos cegos com o elefante.

Procure entender a questão de uma forma sistêmica, procurando analisar diferentes pontos de vista e as conexões existentes dentro do próprio assunto em questão e, mesmo, entre aquele assunto e a sociedade, o país e o planeta.

MAURÍCIO ROSCOE

Maurício Roscoe é engenheiro e empresário e tem se dedicado ao estudo e promoção da visão sistêmica.

Fundador e Ex-Presidente da M. ROSCOE, empresa de construção civil especializada em obras industriais pesadas. Foi presidente do Sindicato Patronal (Sinduscon MG), da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e da União Brasileira para a Qualidade (UBQ MG). Foi vice-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) e presidente do seu Conselho Econômico.

Pertenceu ainda aos conselhos da Fundação Cristiano Otoni, da Sociedade Mineira de Engenheiros, do Serviço Nacional da Indústria (SENAI), da Pontifícia Universidade de Minas Gerais (PUC MG) e da Fundação Dom Cabral.